No tempo do telefone a manivela
Até o início dos Anos 70, na minha infância e adolescência, o telefone em Itaqui tinha manivela. Para se fazer uma ligação funcionava da seguinte forma: Dava-se algumas maniveladas até a atendente da Central lhe perguntar o número para completar a ligação, nem é preciso dizer que esta pessoa era a mais bem informada da city (podia escutar todas as conversas). Para se fazer um interurbano a dificuldade aumentava, era tanta que que se ficava rouco de tanto gritar.
A importância dos radioamadores nesta época era fundamental para as comunicações a longa distância. Thomaz Zacarias Sanchotene, PY3KV, meu pai, foi um dos pioneiros no Rio Grande do Sul. Durante muitos anos prestou serviços à comunidade totalmente de graça, estava sempre pronto para ajudar a qualquer hora do dia ou da noite. Foi o elo para notícias de familiares que estavam longe, as vezes em tratamento médico nos grandes centros, solicitações de aviões para transporte de doentes e inúmeras vezes também serviu a nossa Polícia Civil. Lembro de um fato curioso: Havia uma eleição em nossa cidade, uma emissora de rádio de Uruguaiana veio fazer a cobertura, com as devidas licenças do DENTEL e LABRE, um reporter passava as informações da apuração dos votos com boletins feitos diretamente de minha casa, uma maravilha!! Acho que foi aí que começou a minha paixão por rádios.
No final dos Anos 70, ao retornar de Porto Alegre onde estudei e comecei minha trajetória de trabalho no ramo do comércio, com o pai já falecido, decidi ingressar no radioamadorismo, modulei por algum tempo na faixa dos 11 metros com o prefixo PX3-B-2117. Comecei a estudar o CW (Código Morse), pois tinha a intenção de me tornar um PY como ele, as provas eram difíceis, exigia conhecimentos de fonética internacional, eletrônica (acho que foi aí que também passei a gostar de eletrônica), e a mais temida de todas o CW. Os exames eram aplicados na capital, vez por outra, e isso implicava em despesas e ausências no trabalho. Apesar de me achar preparado, não cheguei a prestar uma prova sequer, fui aos poucos me desviando desse objetivo, e com o passar do tempo perdi o entusiasmo.
O que ficou foram as lembranças. Tenho ainda bem guardados centenas de cartões de QSL (mensagem entendida) de colegas de toda parte do planeta, confirmando nosso QSO (comunicado entre estações) com data, horário e canal (freqüencia) destas comunicações. Possuo também lindos postais de inúmeras cidades, enviados pelos amigos do rádio.
Ficou o orgulho de um dia ter representado a família em uma homenagem ao meu pai (in memoriam), na sede da LABRE-RS na rua Dr. Flores em Porto Alegre, logo após o seu falecimento.
Saudades do PY3KV, o velho Tomacito de guerra!!
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